– e chegamos ao post 641! –
Vejam esta frase de um aluno online meu, o Danilo, que está aproveitando a quarentena do covid-19 para melhorar a redação. Ele tinha acabado de entrar numa nova escola, no 1o. ano do ensino médio, e estava com notas muito baixas na redação por vir de uma escola onde a redação não era treinada.
“Uma pessoa que decide ingerir muito álcool, ela perde totalmente sua coordenação motora e também os reflexos…”
Achou ali algo inadequado?
Eu espero que sim… a linguagem correta para este trecho seria
“Uma pessoa que decide ingerir muito álcool perde totalmente sua coordenação motora e também os reflexos…”
Como você vê, eu eliminei a repetição do sujeito. Pra que repetir sujeito num texto assim, objetivo? “Uma pessoa” e “ela” eram a mesma pessoa, o mesmo sujeito!
O que ocorreu é que o aluno escreveu no papel exatamente do jeito que ele fala, e ele não teve orientação até o momento sobre as várias linguagens que usamos nas várias situações da nossa vida; ele não tinha noção exata de que falamos com linguagens diferentes com a mãe, com o colega, com o diretor da escola, com o professor de português… enfim, essa modulação, que nós chamamos de registros, é uma noção que precisa ser ensinada na escola e precisa estar sedimentada no ensino médio.
Quando uma criança não tem escolaridade – ou tem uma escolaridade incipiente – a tendência é ela se tornar um adulto que fala bem com aqueles ao redor, mas não se sente seguro para falar com pessoas que tenham instrução ou que estejam numa escala hierárquica mais alta. Por exemplo, esse adulto não se sentirá seguro para ir pessoalmente falar com o chefe da fábrica, ou com o vereador do bairro, ou não conseguirá escrever uma carta para um jornal pedindo alguma ajuda… É uma limitação séria, que afeta a cidadania do indivíduo – não é brincadeira!
Mas, voltando a nosso aluno, Danilo, ele não teve até então essa orientação e, ao lhe ser exigida uma redação, ele escreveu para a professora usando o mesmo registro que usa na linguagem do bate-papo. Essa é a linguagem coloquial, e com muita probabilidade você também tem falado desse jeito – repetindo desnecessariamente o sujeito. Pode começar a prestar atenção. Eu estou usando essa linguagem coloquial também, não consegui resistir à tendência…
É uma tendência generalizada, mas é uma linguagem coloquial, fique atento para isso! Ela não pode passar para sua redação, e não é parte da linguagem culta!
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