Aprenda a detectar estes tipos de erros na sua redação sem precisar de corretor – aulinha prática!
Sim, vamos ver hoje algumas falhas bem sérias para você já ficar esperto ao escrever sua redação para vestibular ou concurso.
Isso vai te ajudar a melhorar sua nota de imediato!
Para a aulinha de hoje, temos uma redação divulgada por seu autor, e que teria obtido uma nova 8,6 aproximadamente num vestibular de medicina no estado de SP.
Leia-a e em seguida você vai me acompanhar, para aperfeiçoar sua capacidade de encontrar, você mesmo, falhas na redação. Sugiro que você abra a imagem em outra janela para acompanhar melhor, até porque a letra do aluno é muito pequenininha. Vamos lá?!
Uma introdução exagerada
Você notou que Kant apareceu na história? Segundo o aluno, é com base no que Kant dizia que algumas pessoas são favoráveis ao fornecimento de medicamentos de alto custo pelo SUS.
Eu não acredito que todas essas pessoas favoráveis tenham lido Kant, sinceramente…
Professor repete mesmo, e eu vou repetir isto: cite fontes que você conhece, para não afetar seu argumento, ok? Cite o que você conhece bem, ou não cite nada, por favor.
Eu também quero chamar sua atenção para o tamanho da introdução. Notou que ela ocupa 1/3 da redação? O que você acha de uma introdução que ocupa todo esse espaço?
É ruim, porque a maior parte de sua pontuação depende do meio do texto, não das extremidades, e quanto mais você se dedicar ao meio do texto, inclusive tendo mais espaço para isso, melhor pra você.
Se você “gasta” tudo que tem para dizer na introdução… o que você vai falar no desenvolvimento?!
Um motivo para o aluno em questão ter escrito uma introdução desse tamanhão é que ele desenvolveu a própria introdução! Ele não deixou muita coisa para a argumentação. Lembra que introdução de dissertação serve para mostrar a tese que será justificada depois?
Introdução não é desenvolvida nela mesma! Deixe um gostinho para o leitor descobrir no desenvolvimento!
E qual seria a tese desse aluno? Me parece que ele está criticando que ministros decidam se o SUS deve ou não fornecer medicamentos de alto custo. Essa tese veio no final da introdução, como é o caso normalmente; e o que veio antes? Merecia todo aquele detalhamento? Falar do lado filosófico do assunto era coisa para argumentação, isso sim!
Aproveitando que chegamos à tese, não sei se você notou, mas ela era uma conclusão do que tinha sido dito antes. Opa… será que era mesmo?
Vamos ver… Ele tinha dito que uns querem o bem para o maior número de pessoas e são contra a distribuição dos medicamentos, e outros, pelo que entendi, concordam em seguir a regra geral. A conclusão do aluno é que ministros não devem decidir o caso.
Como foi que os ministros apareceram ali?! Conclusãozinha incoerente, não é?
O que este desenvolvimento tem a ver com a tese?
Há somente um parágrafo central, o que não tem nada de errado, mas é mais um risco, porque argumentar num único parágrafo é para poucos! Isso é resultado de “gastar” na introdução… aquilo que foi excesso na introdução deveria estar no desenvolvimento, no meio do texto.
Ah, mas você deve ter notado uma certa dificuldade de ler e entender de imediato, né? Para mim foi difícil. E houve também uma perda de paralelismo no começo da frase “e também a relativização”.
Pode observar como ficaria mais claro dizer “nem também a relativização”!
Mas deu para entender que é o caso de se fornecer sim medicamentos caros pelo SUS, considerando o contexto brasileiro, considerando que a saúde em geral vai melhorar. O aluno acha que o negócio é se repensar o orçamento para dar conta disso.
Agora, cá entre nós… o aluno não aceitava a participação dos ministros nessa decisão, lembra? Mas parece que ele deixou pra lá.. não tocou mais no assunto. Lembre-se disso também: a argumentação tem que ter a ver com a tese. A tese é justificada na argumentação. A argumentação não serve para falar do tema, serve para justificar sua tese sobre o tema!
Conclusão – ah, agora tudo fica (um pouco) mais claro!
Imagine que você só leu a conclusão desse aluno. Agora tente adivinhar o que teria sido dito na redação para ele ter chegado a essa conclusão.
Ele teria decidido mostrar que é nosso direito (direito de cada um de nós) receber o medicamento de alto custo, porque também atinge o direito coletivo.
E agora compare com a tese. Ficou diferente, não? Agora que o texto terminou nós entendemos claramente a intenção do aluno, veja só!
Sobre a história do “marimbundo” lançado ao mar, juro que não entendi. Deve ter sido escrita para fazer par com a frase final lá da introdução, o que você acha? Tipo… chave-de-ouro… enfeite.
E leve isso com você: redação de prova é objetiva. Objetiva é redação que não deixa nada no campo simbólico, para o leitor adivinhar ou interpretar. Imagine um documento, como um contrato de venda de um bem, ou o certificado de conclusão do seu ensino médio – como ele ficaria se fosse incluída linguagem poética ou trechos cheios de simbolismo?
É a mesma coisa com a redação, ok? Tire da sua cabeça a ideia de que você vai impressionar o leitor, ou que ele vai te dar nota a mais por coisas assim. Pior que ainda pode tornar sua redação obscura – aí sim isso vai entrar na sua nota, mas com perda de pontos.
“Receita de bolo” pra redação – fique fora disso!
Fica difícil entender como o aluno obteve uma nota assim boa, não é?
Quando nós, professores, vemos uma redação com esse tipo de introdução, especialmente, já entendemos que o aluno foi vítima de quem ensina fórmulas para redação. E geralmente é o aluno que faz a introdução antes até de decidir o que pretende dizer realmente na redação toda. Por isso ele diz uma coisa na introdução e outra na argumentação.
Como diria meu ex-aluno Guilherme, é a maldita “receita de bolo”. Ele estava farto de “receitas de bolo” que não ajudavam em nada a melhorar a redação. Ele mesmo conta isso neste vídeo:
E toda “receita de bolo” espertinha diz que você precisa citar filósofos, de preferência…
O aluno citou Kant, como se eu, professora, ou o corretor – professor – fosse obrigado a conhecer a obra do filósofo… se o aluno quer que eu entenda 100% o argumento dele, que está ligado a Kant, é absolutamente necessário me falar mais sobre o que Kant pensava!
Se ele não estudou Kant, isso não seria possível, e a citação de Kant não só não ajudou como atrapalhou!
Ótima aula esta ein? Imagina como você pode evoluir rápido com uma única aula comigo! Você já vai ficar ainda mais atento na sua próxima redação para coisinhas que não se ensina em colégios e cursinhos mas que vão ter peso na hora da prova.
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