Ele acha as aulas de redação do colégio ruins, e desabafou

Aí os alunos começam a reagir contra as aulas de redação…

Fiquei impressionada com um comentário que encontrei no Reddit – muito corajoso! É de alguém que já terminou o ensino médio e soltou o verbo sobre as aulas de redação…

aluno irritado com a aula de redação do colégio – freepik

E é o que acontece nas aulas de redação do Brasil inteiro, especialmente aquelas para o Enem.

Eu fiquei impressionada por ser tanta verdade de uma vez só! Esse aluno é dos mais lúcidos. Às vezes nós, professores, achamos que enganamos os alunos com aquelas “fórmulas” de redação, com as citações de filósofos… Mas pelo jeito tem aluno esperto!

Leia você mesmo.

Pronto falei!

“Esse negócio de tirar nota 1000 na redação do ENEM é muito superestimado pela mídia e as pessoas em geral

Um pouco de contexto: estudei em colégios e cursinhos de elite ao longo do meu ensino médio e é bastante comum que saiam várias notas 1000 na redação de alunos de escolas como as minhas e, agora que estou no terceiro ano, a ênfase absurda que dão pra redação e a forma como ensinam é de cair o c* da bunda.

Em todas essas escolas é comum que os professores façam umas apostilas com citações/ideias resumidas de 2-3 linhas de vários filósofos e sociólogos famosos pra vc decorar e colocar na sua prova. Tem uns 40-50 nomes famosos, citações e os livros de onde eles tiraram aquilo e, como esses estudiosos abordam tópicos gerais, dá pra vc enfiar essas citações em praticamente qualquer tema de redação e fingir que leu os trabalhos deles, enganar os corretores e conseguir uma nota elevada.

A orientação é que vc faça aquela redação com 1 parágrafo médio de introdução, uns 2 ou 3 médios de desenvolvimento e 1 grande de conclusão. Aí vc cita em alguma parte do seu texto uma frase decorada de algum filósofo/sociólogo e faz alguma ginástica mental pra convencer quem tá lendo de que aquilo que o filósofo/sociólogo disse tem alguma coisa a ver com o que vc tá escrevendo. As frases são extremamente genéricas e as apostilas tem até macetes pra vc decorar elas.

Outro ponto são as instituições brasileiras: quanto mais nomes vc souber, melhor. Não pode falar só pro governo fazer isso ou aquilo, mas tem que dizer os nomes dessas instituições um atrás do outro pra ficar com o texto enfeitado. Se for falar do setor privado, a mesma coisa: tem que colocar vários nomes de órgãos governamentais associados a algum tipo de regulamentação privada ou organizações privadas (n empresas privadas) que representam vários conglomerados. Nisso, o pessoal decora o nome do monte de instituição sem entender oq exatamente elas fazem e botam na prova e os professores, mais uma vez, usam uma série de macetes pra ajudar vc a decorar o nome delas, mas não pra entender a função delas.

Meus professores de humanas já deixaram claro que os corretores pouco se importam se a forma como vc tá aplicando o conceito daqueles filósofos/sociólogos está correta (tem várias redações nota 1000 que distorcem uma porrada de coisas nesse sentido), pq muitas vezes os próprios corretores não são estudados naqueles autores e confiam no que o candidato colocou no texto (a recomendação é que vc cite acadêmicos pouco conhecidos pra n correr o risco do corretor conhecer quem vc tá citando e te pegar no pulo).

A estrutura argumentativa é sempre uma coisa assim: [insira a frase/ideia resumida do filósofo/sociólogo aqui], logo é evidente que [insira o tópico da redação aqui] e, dessa forma, [insira o nome de uma série de instituições aqui] precisam [insira qualquer solução genérica aqui] para resolver o problema.”

Eles fazem esses esquemas no quadro pra vc decorar e ficar repetindo várias vezes. Sabe o que é mais engraçado? Os mlks que ficam o ano todo decorando frases de sociólogos/filósofos, mas nas aulas dessas disciplinas só falam o monte de m* quando vão dar a opinião a respeito de alguma coisa pq não estudaram os trabalhos desses estudiosos e acham que as humanidades e as ciências sociais só se resumem ao monte de frases de efeito e listas de exercícios.

E a coisa fica pior: tem muita gente que tira nota 1000 na redação, ganha toda aquela atenção midiática e aproveita aquilo pra lançar perfil de curso de redação em plataformas como facebook/instagram/youtube.

Imagina isso: vc n tem formação em nada, não tem nenhuma experiência com pedagogia nem p* nenhuma, aí tira a nota máxima numa prova e acha que já se qualifica pra ser professor e, pior, pra COBRAR as pessoas. Esses cursos costumam sempre ser uma m*: o monte de dicas genéricas motivacionais e redações porcamente corrigidas (além disso, eles são extremamente parecidos). Quando o curso n dá certo, o indivíduo aproveita os seguidores que conseguiu pra se lançar como influenciador digital.

Sem falar que n tem como vc escrever nada muito relevante num texto de só 30 linhas (e manuscrito) pra abordar um tópico gigantesco, como as redações do ENEM exigem. Isso te coloca numa posição em que vc precisa escrever um texto de m* pra conseguir nota elevada. Isso socializa mtos estudantes brasileiros de forma muito ERRADA com a forma como a produção acadêmica funciona (as escolas botam na cabeça de muita gente que vc pode abordar qualquer tópico social, independentemente do nível de complexidade, com uma redação de 30 linhas).

Se a coisa é assim em escola privada de alto nível, fico me perguntando como deve ser nas públicas.

Fonte: (Reddit)

Aqui você vê a mensagem original, que não me deixa mentir:

---

E aí? O que você diz sobre isso?

Se eu fosse escrever sobre o assunto, não escreveria tão bem quanto esse aluno.

Pra mim é uma tristíssima verdade… é exatamente a situação atual do ensino de redação, tanto faz se é em escola pública ou particular. Só é menos pior quando o aluno nem tem aula de redação: aí pelo menos ele não passa por essa massificação.

Depois de ler esse relato tão triste (pra mim) desse aluno, eu gostaria de ver outros alunos se manifestando. Porque esse fingimento que virou a aula de redação dissertativa não está enganando todos os alunos não…

É que o aluno quer mais é tirar nota para passar, né? De qualquer forma, não é como os alunos pensam:

1. se você aceita seguir uma fórmula pela qual todos escrevem a mesma coisa nas redações, não pode vir falar de liberdade de expressão, por favor; fica feio;
2. se fórmula garante nota 1000, como explicar que só uns 50 alunos tiram 1000 na redação Enem todo ano?

Se você é um desses alunos lúcidos, pode comentar no balãozinho acima – eu vou amaaaaaaaaaaaaaar ler sua opinião! Se bobear, vai virar outro post meu!

Estes artigos também estão fazendo sucesso com meus seguidores:

A história da aluna que escrevia parágrafo por parágrafo

Se você não consegue escrever a redação rápido, que adianta?

post 792 – Por que citar filósofo não está ajudando os alunos a tirar 1000?

Use citação de filósofo que você conhece bem, ou não use nada na redação, por favor!

Decorar citação de filósofo parece lavagem cerebral sobre os alunos… e é generalizada… e só piora a redação deles…

Abaixo temos um trecho da redação da Isabella, aluna vestibulanda que faz meu curso virtual, desde Natal, RN. Ela citou um filósofo – veja o que você acha da citação:

Espero que você não tenha sofrido muito com a letra dela…

Mas, com relação à citação do filósofo, fez sentido pra você?

Vou até traduzir para facilitar sua vida… no começo daquele parágrafo o que ela disse foi que:

“o uso excessivo de álcool vai contra a sociedade de consumo contemporânea porque vivemos em uma sociedade de imagens que nos definem pelo que aparentamos ser.”

E ela garantiu que o filósofo Guy Debord (que eu não conheço e desconfio que nem ela) teria dito o mesmo: que vivemos em uma sociedade de imagens que nos definem pelo que aparentamos ser.

Cá entre nós, citar o fliósofo Guy Debord não fez nenhuma diferença, o que realmente foi importante foi exatamente a afirmação de que “vivemos em uma sociedade de imagens que nos definem pelo que aparentamos ser”.

E ela é que explica por que o uso excessivo de álcool vai contra a sociedade de consumo contemporânea.

Ou pelo menos a Isabella acha que explica…

Eu sinceramente não vi ligação entre uma coisa e outra…

Supondo que esta era uma redação mais voltada para o Enem, e um passarinho me contou que a Isabella tinha sido orientada por professor ou influencer a usar frases de filósofos. Talvez ela tinha até decorado o nome desse filósofo!

Mas para fins de correção do Enem, essa citação que entraria na competência 2 como “uso de repertório” não é lá tão adequada assim.

Se eliminarmos o nome do filósofo, não vai fazer falta – isso indica que não foi um repertório produtivo.

Nós também não sabemos se tem a ver com o assunto, concorda? A própria frase que o filósofo teria dito não tem a ver com o que ela dizia!

Grandes chances de que ela não conseguisse que a citação valesse pontos. Quem sabe foi só perda de tempo para decorar…

Aliás, sobre essa mania incrível e infantiloide de se decorar frases de filósofos que tomou conta das escolas, cursinhos e influencers, encontrei na internet o depoimento de alguém que teria sido corretora do Enem no passado. Nada como uma informação vinda de quem já esteve lá, né?

Esse é um trecho de uma entrevista que está no conhecido Guia do Estudante.

Depois de ler isso, não entendo por que ainda há candidato que insista em sair decorando frases de quem ele nunca leu… sinceramente… Os alunos estão sendo levados a fazer algo na redação que não tem qualquer necessidade. Algo que não tem sentido.

E que normalmente só piora a redação!

E tudo bem: escolas, cursinhos e influencers (arghh!) continuam vencendo.

Tanta coisa pode servir como repertório nessa hora! E uma pessoa com quase 2 décadas de vida tem tanto repertório na memória… Qual será a intenção desses “professores” levando alunos a essa situação?

Não deve ser muito boa.

Voltando ao caso da potiguar Isabella, agora ela está aprendendo a usar seu próprio repertório, que é vasto – ela mesma não imaginava! – e que cai como uma luva no que está explicando.

Desejo de coração ❤ que você não entre nessa tendência, que você vá pelo caminho mais fácil para não se frustrar. Se você simplesmente não sabe como usar o tal do repertório e nem acredita que tenha algo na sua cabeça, meu curso está aqui – em 1 aula te mostro como fazer.

Quando usar maiúscula e quando usar minúscula?

Fique atento a este erro feio na sua redação e na mídia também!

Tem umas falhas de português que os alunos não percebem, mas deveriam perceber. Eles não percebem, repetem o erro, e acabam levando para a vida profissional. O de hoje eu encontrei na mídia.

Este trecho abaixo estava num portal de notícias e contém um erro crasso (crasso = que mostra falta de conhecimento básico). Qual seria ele?

Sim, é um erro relacionado ao uso de maiúsculas.

Brasil é nome próprio, por isso é escrito com maiúscula.

Não sabe o que é nome próprio?!

É exatamente o que a palavra diz: o nome é próprio daquele ser/objeto, é como se ele fosse batizado com o nome.

Você tem um nome próprio que é seu nome. Países também têm. Empresas, como sua escola, seu cursinho, têm nome próprio.

É diferente de palavras como estas:

• país
• pessoa
• cidade
• escola

Esses não são próprios, são comuns, percebe? Indicam uma categoria, um grupo de coisas/seres. E quando se escreve um nome próprio se usa maiúscula.

Ok, ok, você pode estar achando um exagero eu fazer um artigo sobre isso, mas você não tem ideia de como os alunos erram isso! Sim, até os que estão às vésperas do vestibular!

Quando eu digo a um aluno “tem uma falha ali”, pensando que ele vai notar de imediato falha de maiúscula, ele simplesmente não a enxerga… Vai perder pontos em provas por bobagens! Por um tópico básico, aprendido durante a alfabetização.

E não é muito respeitoso escrever o nome do nosso país com minúscula, cá entre nós, né?

Estes artigos estão bombando:

Alguns alunos são diferentes da maioria…

O que acontece se você esquecer o título?