post 754 – erro de redação que você não percebe

Este erro que os alunos não percebem na redação é dos piores!

Você já cometeu este grave erro na redação – certeza absoluta!

Vamos ver um caso de mudança de sujeito!

Este é um trecho de minha aluna carioca, Gabi. Ela é vestibulanda e faz meu curso online. Veja a mudança de sujeito sem aviso, na frase que fala dos 120 dias:

curso de redação online

 

 

De quem ela está falando?!

A Gabi escreveu

“leva-se 120 dias”

e escrevendo assim ela quis dizer que o sujeito era qualquer pessoa! Tem um sujeito, mas ela não sabe quem exatamente é (pode ser mais de um!), e também isso não importa.

Esse é o sujeito indeterminado. Aquele “se” serve para indeterminar o sujeito!

 

Agora, quando a Gabi escreveu

“pode levar até 5 anos”

… qual seria o sujeito?

 

Não sei…

Alguém poderia levar 5 anos? Quem? Talvez seja a adoção!

O problema é que ela não avisou que estava passando do sujeito indeterminado para algum outro sujeito.

Então podemos corrigir desta forma:

“leva-se 120 dias, porém na prática pode-se levar até 5 anos” (o sujeito é indeterminado)

ou

“leva 120 dias, porém na prática pode levar até 5 anos” (o sujeito é a adoção!)

 

Isso ajuda na clareza, notou?

Então é o seguinte: na hora de reler (porque você relê, né?) detecte de quem você está falando, quem é o sujeito.

No começo parece impossível, mas você se acostuma!

 

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Você descobre qual o erro aqui?

Sim, temos curso de redação em vídeo – os melhores!

 

 

Esta redação parece boa, mas não é

Ela até ganhou nota alta no vestibular – mas não merece!

Veja algumas falhas sérias  deta redação nota 8,6 em uma prova de vestibular. 

O tema era este: fornecimento de medicamentos de alto custo pelo Estado: entre o direito coletivo e o individual

 

Queria que você observasse a desconexão entre os vários parágrafos:

correção de redação online

Acompanhe comigo cada parágrafo:

Parágrafo I

Pense: o aluno falou de Utopia, aquela obra de Morus e parece que ele achou que tinha algo a ver com a distribuição de medicamentos de alto custo pelo governo.

Tem?

Não sei… o Estado ideal distribui medicamentos caros ao povo?

Não sei… faltou dar essa resposta.

Então o candidato diz que a decisão de distribuir medicamentos de alto custo envolve impactos jurídicos – é verdade – e por isso esse candidato achou que vale a pena analisar como a filosofia e a cultura explicam o contraste entre direito coletivo x direito individual.

Aqui já começa a haver uma confusão grande…

Por que será que o candidato achou que filosofia e cultura têm a ver com o impacto jurídico? O que uma coisa tem a ver com a outra?!

Você vê como a introdução já deixou o leitor com dúvidas – mau prenúncio…

Parágrafo II

O aluno fez uma enumeração de itens no meio da redação. O item 1 é este:

a filosofia ajuda a compreender o papel do Estado

E neste parágrafo ele fala do direito coletivo se sobrepujar ao individual, que era o que os contratualistas defendiam. Até aí, tudo bem (o corretor não domina nada sobre contratualistas, porque é um professor de português, bom lembrar…).

Depois o que o candidato fez foi falar de um fato: a Constituição garante direito à saúde e o Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional cuida de garantir isso na prática.

Sinceramente não sei onde entra a filosofia aqui…

Será que o aluno quis mostrar que a Constituição segue a filosofia de Locke?! Olha… se foi a intenção, não deu muito certo, precisaria de mais ima página eu acho.

Enfim, se o aluno encarou isso como o “primeiro lugar”, mesmo sem a gente entender direito que aspecto é esse, vamos ao segundo lugar:

Parágrafo III

No segundo lugar de importância, o aluno fala de como a arte explica os limites do nosso governo. Curioso, né? Vamos ver como é isso…

O aluno cita Utopia, um livro onde havia o Estado ideal que garantia o direito de todo mundo graças à força de outras instituições da nação. Ok, vou acreditar, porque a prova não é de filosofia, então não vamos discutir Utopia aqui.

 

O Estado ideal garante o direito de todos graças à força das outras instituições… mmmm…não apareceu a arte por aqui ainda…

Bem, o aluno fala de crises , incluindo a crise econômica, que restringem a ativação da máquina estatal e no fim é preciso priorizar gastos e escolher quem vai receber os medicamentos caros do governo.

Você encontrou algo de arte nesse trecho? Eu não. Eu até fiquei com uma dúvida, porque sempre me pareceu importante priorizar gastos… ou será que só em crises é que precisa?

E terminando ele fala de como o direito individual às drogas também tem restrições. O termo “drogas” ficou bem ambíguo, né? “Drogas” é muito amplo, eu acho que o aluno queria se referir a drogas farmacológicas…

E no fim das contas… onde está a arte?!

Eu nem vou conseguir resumir esse parágrafo numa frase – mal sinal!

E o que a Utopia estava fazendo aqui, aliás? Utopia tem a ver com crises? Tem a ver com priorizar gastos?

Parágrafo IV

Conclusão a que o aluno chega: o direito coletivo à saúde também tem suas prioridades, pensando no bem social e no bem fiscal.

Mmmm… acho que não foi bem isso que o aluno disse no texto, foi? Eu não estou sabendo por que exatamente o direito coletivo à saúde deve ser priorizado quanto ao social e quanto ao tesouro público, não estou.

O aluno também conclui que não se pode defender o direito individual sem limites, porque o contrato social se baseia na vida em sociedade. Opa… esse contrato social ainda está valendo?! Sei lá, sou professora de português, não de história ou filosofia…

E o aluno continua concluindo: é preciso investir no tal Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional para que os brasileiros tenham uma qualidade mínima de vida, que é o que a Constituição diz, e é preciso promover uma análise da entrega de medicamentos fora dessa política.

É… aqui eu vejo a opinião um pouco mais clara do aluno, mas é um pouco tarde…

O aluno parece aprovar a entrega de medicamentos caros, e parece que o aluno aprova a entrega de medicamentos por aquele Programa; mas… acho que todo mundo concorda que esse Programa os entregue, não é? Acho que não era essa a questão.

A pergunta central era sobre a entrega de medicamentos de alto custo – será que o Estado deve bancar isso? ou não?

Não me pergunte onde está a arte, onde está a cultura, que ficou láááá na introdução… e nem a filosofia estava na história…

correcao de redacao

Resumindo

Foi uma análise rápida, mas é o que dá para se fazer aqui no blog.

De qualquer modo, você aprendeu a localizar problemas de clareza, e nós terminamos de ler sem sabermos com certeza a opinião do aluno. Ficou com cara de dissertação expositiva, não ficou?

 

Eu estou brincando, mas sei bem o que aconteceu: esse aluno deve ter sido (mal)treinado para fazer redações. Ele deve ter aprendido a bobagem de que é preciso citar nomes de famosos, livros… filósofos, e foi isso que ele fez.

A pergunta da proposta ficou de lado, porque ou se faz uma coisa ou outra, não é mesmo?

 

E não foi só a pergunta central que ficou de lado (ou mal respondida): o aluno parece ter ignorado totalmente os textos fornecidos!

Na prova havia a opinião de duas pessoas da área jurídica, não era coisa de se jogar fora!

Pelo jeito o aluno também aprendeu (erradamente) que não se podia nem olhar para os textos fornecidos, quanto mais citá-los!

E mesmo você, que acredito ser um candidato, é um professor, percebeu que não foi fácil entender o que o candidato achava do assunto.

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Deixa eu explicar o que é intertextualidade

Como faz para não ser coloquial?