post 798 – Fuga do gênero textual na prova também é perigoso!

Fugir do tema é um problemão, mas fugir do tipo de texto pedido na prova não fica atrás!

Dissertação argumentativa pode ter narrativa dentro dela. Mas quanto de narração é permitido na redação? Eu respondo agora mesmo!

O Arthur deixou uma dúvida no meu blog que é a seguinte:

tipo textual na redação

Boa dúvida!

É que fugir do gênero textual também pode zerar sua redação.

Para sentir na pele o que é a fuga do gênero textual, leia a redação abaixo, que um aluno do curso virtual para vestibular me enviou. É importante saber que eu tinha pedido uma dissertação argumentativa para ele.

fuga do tema na redação

Pois é… ele deu uma escapada legal do gênero textual.

E foi uma pena porque ele escreve muito bem, não acha? Parece um artigo de revista, ou até uma crônica!

Os 3 primeiros parágrafos são uma narrativa – bem interessante, aliás.

Dali em diante ele entrou na dissertação argumentativa, finalmente.

Se ele começasse o texto pela conclusão que ele fez, ali estaria uma bela introdução de dissertação argumentativa, e talvez ele não narrasse por tanto tempo.

O que esse aluno deveria ter feito

O problema desta redação é que ela é meio narração e meio dissertação argumentativa, quando ela deveria ser predominantemente dissertativa argumentativa.

Para ficar dentro do gênero textual sem riscos, o aluno deveria reduzir substancialmente o trecho narrativo (um parágrafo já estaria ótimo) e em cima dele dissertar, como ele fez tão bem no penúltimo parágrafo.

E essa alteração precisaria ser feita na releitura do texto, que é aquela etapa em que o aluno dedica uns 40 minutos a reler, alterar, incluir, eliminar, melhorar (aquela que você sempre pula, sabe?). É a etapa fun-da-men-tal que escolas e cursinhos fazem de conta que não existe.

Então é isso: não tenha medo de usar narrativa ou até descrição na sua dissertação argumentativa; apenas veja o efeito final, que sempre deve enfatizar a dissertação argumentativa.

E vou sugerir que você leia também estes artigos que são ótimos (modéstia à parte):

A dissertação do Enem é diferente?

O que os vestibulandos mais velhos têm que você não tem?

Como o tamanho da sua letra pode ajudar você a ter nota alta na redação

O tamanho da sua letra faz diferença no dia da prova de redação!

letra grande ou pequena na redação

Cada aluno tem uma letra, não tem jeito. Eu também tenho a minha. É uma coisa difícil de se mudar, ainda mais perto de uma prova, como vestibular ou concurso.

Mas fatos são fatos.

Dependendo da sua letra, você pode ficar em desvantagem no dia da prova de redação.

Se não acredita, vamos ao teste: qual dos dois alunos vestibulandos abaixo teve de ESCREVER MAIS, e, por isso, talvez tenha passado MAIS TEMPO escrevendo?

Comparando as letras de duas redações de alunos meus

Sim, foi o da redação com letra miudinha.

Esse aluno (na verdade é uma aluna) do meu curso virtual sofre muito para escrever uma redação: escreve, escreve, escreve e nunca dá conta das 30 linhas. Às vezes até se torna repetitiva. Eu já a avisei disso, mas não é fácil mudar a letra.

Por outro lado, letra gigante também tem suas desvantagens!

O aluno da direita (esse é do meu curso online), por sua vez, tem uma letra muito grande. Tão grande que, sem perceber, seus parágrafos que parecem suficientes, na verdade, correm o risco de nem terem desenvolvimento. Dê só uma olhada no parágrafo III – só tem um período, apesar das 5 linhas!

E o tempo?

Quem escreve com letra miudinha geralmente demora mais para fazer a redação (não é regra, ok? mas é o que eu vejo entre meus alunos). Se for um aluno cheio de ideias, maravilha! Ele vai preencher as 30 linhas rapidamente.

letra pequena ou grande é melhor

Mas se não tiver muito o que escrever (que é a média dos alunos), vai ser um sofrimento preencher as 30 linhas; se bobear não preenche nem o número mínimo de linhas!

Claro que não é uma obrigação preencher as 30 linhas, mas sempre é bom… quanto mais argumentos e detalhes, melhor na hora de uma comparação entre redações (redações de concorrentes são comparadas quando as notas estão empatadas).

Às vezes a letra não é tão miudinha, mas é grudadinha – quase não á espaço entre as palavras inclusive. Mesma coisa: para preencher as 30 linhas vai ser necessário mais assunto, mais tempo…

Agora, quem escreve com letra gigante vai preencher as 30 linhas mais rápido, teoricamente; mas nunca se sabe com que qualidade, né? Esses alunos se enganam achando que o parágrafo já está do tamanho ideal, mas muitas vezes só tem uma frase – não tem desenvolvimento de verdade!

Está certo que a redação desses alunos sai mais rápido (esse da imagem escrevia em 40 minutos!), eles preenchem as 30 linhas mais rápido, mas nem sempre com qualidade.

Já fazia tempo que meus alunos insistiam para eu fazer este artigo – tá aí! Ninguém fala sobre isso! As desvantagens de cada tipo de letra precisam ser conhecidas. Pense nisso, para não sair prejudicado com os extremos!

Dois artigos que vão te agradar:

Verbo de ligação na redação?! Pode?

Você acha que fez uma tese, mas… será que fez mesmo?

Post 796 – No dia da prova o corretor não vai estar com você… E aí?

Como você quer ter nota boa na redação, se não sabe corrigir sua própria redação?

Aos pouquinhos é preciso parar de depender de professor corrigindo sua redação – senão, como é que você vai se virar no dia da prova?

Vamos a mais um teste para ver se você detecta falhas na redação! Usaremos uma redação com nota 960 no Enem.

Primeiro, você deverá descobrir as 6 falhas de gramática desta redação, assim como faço com meus alunos:

correção de redação

Conseguiu?!

Vamos às respostas:

  1. na linha 1, “álcool” é a forma correta de acentuar
  2. na linha 6, o correto é “chegar ao Brasil”
  3. na linha 10, não deveria haver vírgula, porque nada pode separar o sujeito do verbo
  4. na linha 12, não se acentua “conscientização”
  5. na linha 19, dois-pontos ficariam bem melhor no lugar da vírgula
  6. na linha 20, deve-se acentuar “dá” porque este é o verbo “dar”

Ok, espero que tenha conseguido encontrar todas as falhas, ainda mais se estiver perto da data da prova…

Veja de novo… tem mais falhas!

Mudando um pouco de foco, você notou que esta redação tem 2 parágrafos de desenvolvimento com apenas UM período?

Os parágrafos II e V têm só um período – só um ponto final. Não é proibido que um parágrafo tenha só um período. O problema seria se esses parágrafos ficassem longos demais com um período só, como já vimos antes.

De qualquer forma, não foram parágrafos bem escritos para uma redação de vestibular, porque não foram desenvolvidos. O parágrafo II apenas informa um detalhe sobre por que a lei Seca foi implantada.

E se você for bom observador, esse parágrafo II não merecia ser um parágrafo sozinho! Ele faz parte do anterior! Essa é uma falha!

correção de redacao enem

Você nem imaginava né? Olha só como você está deixando passar falhas!

Ao passar da introdução para o parágrafo II, o candidato deveria falar claramente da Lei Seca – repetir o termo Lei Seca! É sempre aconselhável repetir o termo central entre um parágrafo e outro.

O candidato até poderia preferir ter 2 parágrafos de introdução, mas repetindo o termo central. Teria que ser algo do tipo

“Implantada com sucesso em muitos países, a Lei Seca gerou grande alvoroço…”

Já o parágrafo V resume a intenção do texto, então está mais com cara de conclusão. Tudo indica, portanto, que há dois parágrafos de conclusão. Também não é um erro, mas… por que não unir os dois?

Com relação às exigências do Enem, existe um critério específico que tira pontos de parágrafos embrionários, quer dizer, que não são desenvolvidos, então é bom ter muita certeza ao fazer um parágrafo com um período só.

Creio que 960 foi uma nota muito generosa para essa redação, apesar de ter ela boas qualidades (é clara, tem fluência, e não exagera em incluir palavras “difíceis” nem frases de filósofos que caem de paraquedas.)

Busque neste meu blog completíssimo e você vai encontrar mais testes desse tipo, para fazer sua redação rápido e tranquilo!

Se você recebeu uma correção de redação que o deixou com a pulga atrás da orelha, mande pra mim sua dúvida – vai virar um post!

E veja estes artigos que fazem sucesso:

Você já levou susto com nota baixa na redação?

Você sabe mesmo usar “na qual”?!

Pode dialogar com o corretor da redação?

Quando pode dialogar com o leitor de um texto?

Pode usar “você” numa redação de vestibular ou concurso? Este artigo tem a resposta!

Minha aluna Duda é vestibulanda de Medicina, e está fazendo meu curso de redação virtual desde Floripa. Veja a dúvida que ela me enviou:

pode falar com o corretor na redacao

Uma ótima pergunta, difícil de responder “na lata”.

Primeiro a gente precisa lembrar que falar com o leitor não é proibido, de maneira nenhuma. Você já deve ter notado que existe descrição dentro de uma dissertação, existe narrativa dentro da dissertação, e também pode existir dissertação dentro de uma narrativa… e até de um poema!

Tudo depende do peso desse uso num texto. Tudo depende do efeito final.

Pense comigo: a redação escrita em vestibular (e concursos) é um texto que foca o que o autor dele pensa. O importante ali é que o pensamento do autor (o candidato) seja o foco, o centro de tudo.

Segundo, quando se usa um “Você acha que…?”, está-se falando com o leitor, correto? Nesse caso o envolvimento do leitor naquilo que se escreve é um tantinho maior.

O que acontece quando se usa “você” na redação

Então vamos supor que a Duda queria escrever mais ou menos assim:

“… Você acha que um dia as mulheres ganharão salários iguais aos dos homens?”

usar pergunta na redação

Você nota como essa pergunta não vai ter resposta? Não vai.

O corretor não está ali para responder nada, nem mentalmente, ele só tem que analisar o raciocínio da candidata. E essa pergunta não embute nada sobre a opinião da candidata!

Então esse é um caso em que falar com o leitor não fica bem na redação.

Agora suponhamos que a Duda queria escrever assim:

“Um dia as mulheres ganharão salários iguais aos dos homens?”

ou

“Será que um dia as mulheres ganharão salários iguais aos dos homens?”

Veja que a pergunta da Duda nestes casos é um raciocínio dela mesma – dentro da cabeça dela – que é jogado para quem quiser acompanhar o raciocínio.

E raciocínio do candidato é exatamente o que o corretor vai analisar! É um prato cheio para ele!

corretor enem fuvest

Nessas duas perguntas existe um direcionamento, digamos que, indireto, de uma pergunta ao corretor. Aí fica ótimo.

Mas eu não estou dizendo que não é bom dialogar com o leitor numa dissertação! Não é isso!

Dê uma olhada nos artigos dos colunistas de um jornal ou revista. Eles conversam com o leitor! Esses artigos são os tais “artigos de opinião”, e são dissertações também (e às vezes são pedidos em vestibulares), mas o foco ali é tentar tocar o leitor, talvez mudar a ideia dele.

É diferente de um corretor de prova.

Inclusive muitos desses artigos da imprensa dizem “caro leitor” e conversam mesmo com o leitor.

Usar muitos “você” tem outra utilidade

E temos também que lembrar algo que se aprende no ensino médio. Um texto em que se usa muitas vezes o “você”, em que se fala diretamente com o leitor insistentemente, é um texto de função conativa.

Lembra disso?

Esses anúncios que você vê pulando na sua tela do celular, ou que você vê em revistas têm função conativa – pode observar como eles falam direto com o leitor o tempo todo! Eles usam você muitas vezes!

(Essas nuances que diferenciam um texto de outro deveriam ser treinadas na escola, mas infelizmente não é o que acontece… 😦 )

Então tudo depende do efeito, mas não é útil falar direto com o leitor numa prova, pelos motivos que você acabou de entender.

Quer dizer, espero que tenha entendido… se tiver dúvida, é só comentar ali no balãozinho que eu respondo com o maior prazer como faço com todos!

Acho que você vai gostar destes artigos:

Tem segredo para tirar 10 numa redação?

Quanto tempo precisa para aprender redação?

Você também encontra artigos meus no site Redação Online, sabia?

post 794 – O certo é traz ou tráz ou trás ou tras?

Quando se usa “trás” e “traz”?

Eles são beeem diferentes, é super fácil saber quando usar cada um, vou te contar agora.

Dê uma olhada neste trechinho de redação da Ingrid, ex-aluna do meu curso de redação virtual – ela usou certo o “trás”?

tras ou atraz

Não! Ela não usou certo!

O certo seria “é o que nos traz tanta autoestima”.

Esse é um erro bem comum, mas de hoje em diante você não erra mais.

Traz vem de “trazer”. É um verbo.

Trás indica uma posição atrás de algo. É um advérbio (de lugar)

E já vou chamando sua atenção para outra diferença que vai ajudar você a não se confundir mais: um deles tem acento e o outro não.

O verbo “traz” não tem acento.

O advérbio “trás” tem acento.

Pronto, não tem mais erro!

Estes artigos estão fazendo sucesso:

Não pode escrever “coisa”?! Quem falou?

Não pode escrever como fala?! Aqui pode!